sábado, 2 de outubro de 2010

Crítica de filme: Líbano (Festival do Rio 2010 - Parte 9)


Líbano abre com um bela imagem de um campo de girassóis debaixo de um céu azul bem forte. Essa é a primeira e última tomada exterior desse filme, até os seus segundos finais, 93 minutos depois. E as tomadas interiores que se seguem não são feitas em interiores comuns, mas em apenas um e incomum interior: o de um tanque de guerra israelense no primeiro dia da Guerra do Líbano, que começou em 06 de junho de 1982.

Apressadamente, somos apresentados ao Comandante Assi (Itay Tiran), o motorista Yigal (Michael Moshonov), o carregador Herzl (Oshri Cohen) e o atirador Shmulik (Yoav Donat). Depois de uma discussão entre o comandante e o carregador, o primeiro o menos experiente do grupo e o segundo o mais experiente, eles recebem pelo rádio a missão de atravessar uma plantação e chegar até uma estrada. Logo eles são abordados pelo líder da infantaria, Jamil (Zohar Strauss) e recebem a missão: acompanhar um grupo de 10 homens por uma vila que acabara de ser bombardeada, de  forma que eles possam aniquilar o que tivesse sobrado. A missão, claro, acaba sendo mais complicada do que parece.

O mundo exterior que vemos em Líbano nos é apresentado somente pela mira do tanque e cada movimento acima ou abaixo, esquerda ou direita, é acompanhado do som da torre do tanque se mexendo. Nesse momento notamos que o filme é realmente uma peça rara e originalíssimo. Da mesma maneira, nos vem à mente Das Boot, o sensacional filme de Wolfgang Petersen de 1981, quase todo ele passado dentro de um submarino alemão. Mas a claustrofobia de Líbano consegue ser ainda maior ainda que o drama dos marinheiros de Das Boot que, diferentemente dos soldados do tanque, estão presos no submarino, é maior.

Mas o diretor israelense Samuel Maoz, que fez o filme com base em sua própria experiência  na Guerra do Líbano, compensa o senso dramático é compensando pela urgência e pelo desespero que se instala quase que imediatamente, logo na primeira cena de ação em que Shmulik simplesmente não consegue atirar no alvo que é ordenado por "simples" apego à humanidade. A claustrofobia, do filme, é outro fator que impressiona. Tudo é feito dentro do tanque, inclusive as necessidades primárias e toda vez que a escotilha é aberta, ninguém da equipe sai.

A mensagem anti-bélica é evidente e já foi feita milhares de vezes antes. Mas o filme é catártico para o diretor, que tenta ser mais universal em temática do que ficar apenas confinado à Guerra do Líbano. Evidentemente, porém, há elementos que são típicos dessa guerra, como os falangistas cristãos que lutam ao lado dos israelenses e o ódio aos sírios. No entanto, meu conhecimento sobre esse conflito é limitado demais para determinar se há ou não erros fáticos como alguns apontaram. Mas isso pouco importa. Pouco importa também se um tanque não é operado exatamente da maneira mostrada em um filme.  O que importa são as marcas que o filme deixa em nossos cérebros.

O horror da guerra visto pela mira de uma arma mortal, ela própria um símbolo da destruição ao redor, dá o tom do filme e permite um desenvolvimento crível, ainda que um tanto rápido, dos personagens. Vemos o comandante sem nenhuma força de comando literalmente perder o contato com a realidade; vemos o já falado atirador que não consegue atirar e o motorista que não consegue ler seus instrumentos corretamente. O carregador, que tem a função de retirar as cápsulas usadas e colocar balas novas nos tubos, é o único que consegue manter uma certa distância, talvez por ser aquele que não consegue enxergar o horror ao redor.

Se Líbano peca em algum momento é em seu final um pouco "fácil" demais, quase poético. De resto, o filme é um soco no estômago e uma lição de direção e originalidade.

Esse filme ganhou o Festival de Veneza desse. É um bom começo, mas merece muito mais.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes e Box Office Mojo.

Nota: 9 de 10

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