segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crítica de filme: Michael Jackson's This Is It


Michael Jackson certamente deixou o sucesso subir à cabeça, foi claramente manipulado por seus irmãos, advogados e agentes. Era um louco completo, que passou por processo de branqueamento da pele e sei-lá-quantas operações plásticas que o deixaram deformado. Teve filhos de maneiras, digamos, pouco convencionais, chegando até a pendurar um do lado de fora da janela quando bebê. Em sua instabilidade, criou sua própria Xanadu, em que até parque de diversões tinha. Passou por forte acusações de pedofilia, algo que simplesmente o marcou pesadamente. No meio disso tudo, queimou sua fortuna angariada com a venda do que sem dúvida são os melhores discos de música pop do mundo. Isso e muito mais era a vida degenerada e triste de Michael Jackson, o Rei do Pop.

Mas nada disso apaga o fato que ele era um gênio, o melhor naquilo que ele fazia: música e dança. This Is It mostra isso de forma evidente.

Falei tudo de ruim que consegui me lembrar de MJ para já deixar esse assunto de lado. Eu sei que ele tinha milhares de defeitos graves mas This Is It não comemora os defeitos, não é uma biografia equilibrada, mostrando o lado positivo e negativo do cantor. É um presente aos fãs e aos não fãs também.

O filme - mais um documentário musical, na verdade - tinha tudo para dar errado, muito errado. Foi montado às pressas a partir de imagens tiradas dos ensaios para o show que Michael Jackson inauguraria em Londres na O2 Arena em junho desse ano. As imagens vão da qualidade boa até a baixa resolução em formato 4x3. Kenny Ortega, o diretor, estava mais lá para criar um DVD de extras sobre o show de Michael do que para fazer um filme. No entanto, com os fragmentos que filmou, conseguiu um feito impressionante. Montou um filme bom que nos mostra o que poderia ter sido o show de MJ se ele não tivesse falecido semanas antes. Mesmo para aqueles que não são fãs do Rei do Pop, fica claro que o espetáculo seria algo do outro mundo, extravagante, bem ensaiado, perfeito, exatamente como a obra e o legado de Michael Jackson.

This Is It é uma sucessão de números musicais começando com Wanna Be Startin' Somethin' e encerrando com Man In The Mirror. As imagens, às vezes, são entrecortadas com Michael dando instruções para seus músicos e dançarinos e, em outros momentos, para imagens de clipes que seriam usados no show efetivamente.

O que mais me impressionou foram as imagens de Michael descrevendo ao diretor musical e aos músicos em geral o que exatamente ele queria. São esses momentos que deixam evidentes a qualidade técnica e o profissionalismo de MJ. É impressionante como ele percebe notas que não o agradam e exige pausas em determinados momentos. O cara pode ser infantil e louco fora do palco mas, no palco, ele se demonstra como um ser integrado em seu habitat, vivendo a vida que nasceu para viver.

É uma pena, porém, que Kenny Ortega  se concentra mais nos números musicais no que essas demonstrações do brilhantismo do astro. Eu, particularmente, não reclamaria se algumas músicas como a chata The Earth Song tivesse sido eliminada e, em seu lugar, fôssemos brindados com Michael dando aulas de música à sua equipe. Teria sido interessante, também, entrar no processo criativo dos passos de dança, algo que não é mostrado.

O filme vai muito bem até e incluindo Smooth Criminal em que Ortega consegue mais ou menos mostrar aquilo que aconteceria no palco: Michael entrando no mundo de Gilda e de Humphrey Bogart, interagindo com os personagens. Depois, segue uma sequência de números menos empolgantes, talvez pela falta de material de Kenny Ortega. Até Thriller ficou fraco pois o clássico foi meio que descaracterizado. Mais para o final, porém, vem Billie Jean e a demonstração suprema do controle absoluto de Michael sobre sua técnica: ele canta e dança, sem backup, sozinho no palco, do começo ao fim. É impressionante ver esse momento, sabendo que, afinal, vem de um homem de 50 anos. Algo semelhante ocorre com Man In The Mirror logo em seguida.

This Is It, como um extra de DVD, é sensacional, brilhante. Como um filme, tem seus defeitos, como longos momentos pouco empolgantes e pouca demonstração do que é MJ, o profissional, trabalhando na música. Assim como temos que separar a imagem que temos do homem particular Michael Jackson do homem público Michael Jackson, o primeiro com graves problemas e o segundo um gênio, também temos que separar o ardor de fã pelo artista e a qualidade de um filme feito com cenas que não tinham o objetivo de serem montadas em formato de filme para cinema. O resultado é bacana, uma grande homenagem aos fãs e ao astro, que nos deixa tristes por ele ter morrido assim de forma tão abrupta e nos faz querer continuar ouvindo sua obra logo ao sair do cinema.

Nota: 7 de 10

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