É, tenho que admitir: minha ignorância é sem fronteiras. Antes de Pina concorrer ao Oscar de 2012 na categoria de Melhor Documentário, eu nunca tinha ouvido falar nem do filme em si nem da pessoa objeto do filme, a coreógrafa e dançarina alemã Philippina "Pina" Bausch, falecida em 2009. E, já que estou confessando ignorância, vou aproveitar e também confessar que nunca fui lá muito chegado a dança em geral, seja clássica, moderna ou, meramente, um arrasta-pé. Mas o fato do filme ter concorrido ao Oscar aliado ao nome de Wim Wenders na direção definitivamente me chamou a atenção e fui conferir o filme no cinema e em 3D.
Para começar, uma coisa deve ficar bem clara para ninguém se desapontar: Pina não é nem exatamente um documentário nem um filme biográfico. Se alguém quiser aprender algo sobre a vida de Pina, pode esquecer pois Wim Wenders apenas deixa claro que ela era uma dançarina e coreógrafa apaixonada pela profissão e ponto final. Também não é um filme biográfico pois não há atores mas sim ex-alunos de Pina dando depoimentos curtíssimos (alguns uma frase, outros algumas palavras e uns poucos nada, só a expressão facial) e dançando, dançando muito. Essa dificuldade na classificação de Pina - mas também sua qualidade - fica evidente quando notamos que a Alemanha indicou esse filme tanto para a categoria de Filme Estrangeiro como para a de Documentário no Oscar. Poderia facilmente ter concorrido às duas estatuetas ou a nenhuma...
Assim, ainda que esse filme provavelmente seja um deleite para quem aprecia a arte de Pina ou aprecie dança em geral, ele não é de fácil digestão. Na falta de uma classificação melhor, diria que Pina é um filme experimental de Wim Wenders. É uma bela homenagem à Pina mas também um grande exercício em direção 3D vindo de um grande diretor. Mesmo assim, porém, não deve agradar a todo mundo.
Eu fui um daqueles que, apesar de todas as restrições, saiu de queixo caído de Pina. Quase nada aprendi sobre a coreógrafa e não passei a gostar de dança mais do que já (não) gosto. Talvez até tenha descoberto que, definitivamente, o estilo de dança de Pina não me apetece nem um pouco. No entanto, Pina é um espetáculo sensorial, uma experiência audiovisual e um filme belo, profundamente belo.
Wenders talvez não tivesse o objetivo inicial de fazer o que fez pois começou a produção com Pina ainda viva. A ideia talvez fosse realmente integrar a coreógrafa à narrativa. Com o falecimento dela em 2009, a produção foi encerrada e só recomeçou por causa dos pedidos incessantes de seus ex-alunos. Assim, o diretor viu uma oportunidade e montou um filme em que os tais ex-alunos dançariam as mais diversas coreografias de Pina em cenários montados e naturais.
Apesar de eu não gostar do estilo da dança de Pina, não há como negar o vigor transmitido e a beleza plástica em vários momentos. E o 3D, aqui, não é usado aleatoriamente, apenas para pegar mais dinheiro do público desavisado. Ele é integral ao filme e funciona como um fator de imersão nesse universo estranho mas belo. Dependendo de sua atenção ao filme, em determinados momentos parece que estamos lá na platéia de um teatro, efetivamente assistindo a uma dança ao vivo. É incrível como grandes diretores conseguem pegar uma tecnologia como essa e realmente dar utilidade à ela. Foi assim com A Invenção de Hugo Cabret de Scorsese e é assim com Pina. Esses dois filmes mais Avatar são os únicos que realmente justificam a existência de filmes 3D hoje em dia. O resto é o resto.
Pina é um filme único que, apesar de não ter o poder de agradar a todos (mas que filme tem, não é mesmo?), merece muito ser visto na tela grande e em 3D.
Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.
Nota: 9 de 10
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