quinta-feira, 29 de março de 2012

Crítica de filme: Clash of the Titans - 1981 (Fúria de Titãs - 1981)

Com a estréia amanhã da continuação da fraca refilmagem do clássico oitentista Fúria de Titãs, resolvi desencavar meu belo Blu-Ray, em formato de livro, e revê-lo (provavelmente pela trigésima vez), para poder fazer meus comentários aqui. O que se seguirá nos próximos parágrafos é uma crítica extremamente passional pois esse filme marcou minha infância e eu o adoro até hoje. Além disso, idolatro Ray Harryhausen, com quem já tive oportunidade de conversar brevemente. Para quem não sabe, ele é um fantástico artista de efeitos especiais que desenvolveu brutalmente a técnica de stop motion. Todo filme em que ele trabalhou é obrigatório lá em casa, mesmo para minhas filhas pequenas (que adoram todos ou fingem muito bem que gostam para agradar o pai!).


O filme é uma adaptação da saga mitológica de Perseus (Harry Hamlin), semi-deus, filho de Zeus (Laurence Olivier) com a humana Danae (Vida Taylor), filha de Acrisius (Donald Houston), Rei de Argos. Para libertar a princesa Andrômeda (Judy Bowker), por quem se apaixona, Perseus tem que lutar contra o terrível Kraken mas, para ter alguma chance de vitória, precisa passar por vários obstáculos, inclusive enfrentar outro semi-deus monstruoso chamado Calibos (Neil McCarthy), antigo pretendente da mão de Andrômeda, e filho amaldiçoado de Thetis (Maggie Smith), esposa de Poseidon (Jack Gwillim).

Quem gosta de mitologia vai encontrar dezenas de problemas no roteiro mas eu garanto que essas inconsistências são bem mais aceitáveis do que os Parlapanides fizeram em Imortais, em que basicamente jogaram foram todo e qualquer obra séria que já tenha sido escrito sobre mitologia grega e escreveram o que quiseram usando nomes mitológicos. De toda forma, Fúria de Titãs é um divertimento descompromissado, não uma aula de mitologia.

E nessa categoria, divertimento, o filme tira de letra. Para começar, é incrível ver tantos atores bons em um filme desse tipo. Nada mais nada menos do que Sir Laurence Olivier faz o papel de Zeus! Quem é Sir Laurence Olivier? Ora, se você fez essa pergunta, deveria definitivamente assistir mais filmes. Ele é considerado até hoje como um dos maiores atores que já viveram (ele faleceu em 1989), tendo ganhado fama com seus papéis shakespeareanos como Hamlet, Othello, Richard III e Henrique V. Mas não se pode também esquecer dos papéis dele em Meninos do Brasil, Maratona da Morte e até na versão de 1979 de Dracula (aquela com Frank Langella no papel título).

Mas os responsáveis pela escolha do elenco de Fúria de Titãs não pararam por aí. O filme também conta com Maggie Smith (que recentemente teve sua notoriedade aumentada pela série Harry Potter, onde fez o papel da Professora Minerva McGonagall), no papel de Thetis, Claire Bloom no papel de Hera, a belíssima Ursula Andress (a sereia que sai do mar de biquíni branco no primeiro filme do 007, para os que não sabem nada sobre filmes), no papel de Afrodite e Burgess Meredith, no papel do mentor de Perseus, Ammon. Quem destoa completamente desse elenco estelar é mesmo Harry Hamlin no papel principal. O ator tem expressividade zero, sendo até mesmo desajeitado nas cenas de ação. Dá vontade de chorar.

Apesar de todos esses grandes nomes em frente da câmera, para mim a estrela desse filme é mesmo quem não aparece momento algum: o incomparável mestre dos efeitos especiais, Ray Harryhausen. Em sua lista de filmes temos O Monstro do Mar Revolto, A 20 Milhões de Milhas da Terra, Simbad e a Princesa, Os Três Mundos de Gulliver, Jasão e os Argonautas e vários outros. O trabalho de stop motion é irretocável em todos eles, talvez chegando em seu ponto mais alto de originalidade em Jasão e os Argonautas e, em sofisticação, exatamente em Fúria de Titãs, seu último trabalho de verdade. Imaginem vocês: movimentar um boneco (normalmente um mostro), 24 vezes para cada segundo de projeção do filme. Tudo bem: nenhum dos filmes de Harryhausen foi integralmente feito em stop motion, como o sensacional e recente Coraline, mas já dá para ter uma ideia do tamanho da empreitada.

Hoje, com os efeitos em computação gráfica, todos nós - e certamente os mais jovens, que não viveram uma época sem computação gráfica - de alguma maneira já esperamos efeitos extremamente polidos e perfeitos, imitando e até melhorando a vida real. A maioria dos que hoje forem assistir Fúria de Titãs torcerá o nariz para o quão "tosco" são os efeitos. Mas parem por um momento e imaginem todo o trabalho e genialidade por trás da técnica. Em Fúria de Titãs, Harryhausen animou um abutre gigante, escorpiões gigantes, a Medusa, o cavalo alado Pegasus, o Kraken e até mesmo Calibos em algumas cenas. Não esperem perfeição e fluidez nos movimentos mas parem para observar e imaginar a incrível coordenação e controle do cenário e das proporções que alguém tem que ter para fazer o que Harryhausen fez. E olhem que não estou nem dizendo que computação gráfica é uma técnica mais fácil ou pior que stop motion. Longe disso! Respeito muito os grandes mestres que são ases do computador. Mas não há dúvida que a computação gráfica, de uma maneira ou outra, banalizou os efeitos e nos tornou insensíveis para todo tipo de trabalho manual que veio antes. É uma pena, mas é a verdade.

Mas voltando diretamente ao filme, o roteiro de Fúria de Titãs é pouco trabalhado. Apenas uma desculpa mal arrumada para colocar Perseus a caminho de seus desafios. A direção de Desmond Davis é só burocrática, sem nenhum lampejo de criatividade. No entanto, tudo é muito divertido, especialmente quando entra em cena a charmosa coruja metalizada Bubo, um dos personagens mais inesquecíveis que já vi no cinema. Ela é a guia de Perseus e outra grande conquista de Harryhausen, que a anima quase que tornando-a um ser vivo de verdade. O ponto alto do filme, porém, é a luta de Perseus contra a górgona Medusa. A luta é tão boa e bem feita que faz o final - em que nosso herói enfrenta o Kraken - ser quase um desapontamento.

Não vi Fúria de Titãs 2 ainda mas garanto que o original continuará sendo o melhor para mim. Sugiro que todos que não viram o clássico façam o esforço de assisti-lo. Vale muito a pena.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 8,5 de 10

2 comentários:

  1. não sou chique como você, com o blue ray, mas tenho o DVD desde sua primeira edição, substituindo minha cópia (original, não se preocupe) em VHS, que adquiri do espólio de uma locadora agonizante. sou, pelo que li, tão apaixonado quanto você por esse filme que devo ter visto outras 30 vezes como você e outros tantos malucos e nerds que eu conheço... poucos filmes me marcaram como esse, tanto pela história, mexendo com minha paixão pela mitologia, quanto pela revolução "técnica" que iniciou como stop-motion. keep up the good work, i'll stay tuned.

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  2. Tinha 7 anos quando assisti pela primeira vez esse filme. Quando ele passou no Supercine da Globo meu tio gravou em VHS e pude revê-lo pelo menos umas 20 vezes na minha infância. Hoje, acabei de comprar o filme em alta resolução no Google Play e estou revendo um tempo inesquecível. Fazendo pesquisas sobre o filme encontrei esse site, o melhor, por sinal, pelas informações sobre os atores, diretor, e é claro, o responsável pelos efeitos especiais. Quem não tiver o filme e quiser saber mais sobre ele fica a dica do Google Play. Abraços!

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."