quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Crítica de filme: Exit Through the Gift Shop

Tenho sérias dificuldades em classificar ou mesmo escrever sobre Exit Through the Gift Shop. Sim, é um documentário (tanto que concorreu ao Oscar de 2011 na categoria Melhor Documentários Longa Metragem) e sim, é sobre "arte de rua" (o nome bonito que deram a pixações mais sofisticadas). Até aí eu consigo ir com tranquilidade. Mas esse filme é muito mais do que isso, desafiando até mesmo a definição de documentário. Se você não viu esse filme, pare por aqui, veja e depois volte.

Famosamente dirigido pelo obscuro Banksy, Exit Through the Gift Shop gerou um certo furor e muita polêmica quando foi lançado e, principalmente, depois que passou a concorrer ao Oscar. A primeira questão que atiçou a curiosidade de todos foi se, caso o filme ganhasse o Oscar, seu autor apareceria. Banksy é muito conhecido no meio de "arte de rua" mas ninguém que não seja de seu círculo íntimo, conhece sua identidade. Particularmente, nunca tinha ouvido falar dele antes desse filme aparecer mas, se ele efetivamente dirigiu o documentário, devo confessar que, ainda que a qualidade de sua arte seja duvidosa, seu tino cinematográfico é perfeito. 

Estou meio que pisando em ovos pois, falar muito desse filme é estragá-lo para quem ainda não viu. Por outro lado, falar o que posso falar sem estragar nada é muito pouco, caberia em um parágrafo curto. O meio termo é dizer que esse documentário talvez nem documentário seja. Sim, é uma espécie de "breve história da arte de rua" mas, também, é uma fortíssima crítica social sobre o que é arte. Não fica claro se o próprio Banksy se desmerece ao demolir o que nós consideramos como arte, mas parece-me que sim e isso é um dos aspectos que torna esse filme completamente imperdível.

Tudo começa com a estória de Thierry Guetta, um imigrante francês em Los Angeles que é completamente fissurado com filmagens. Ele filma de tudo em sua vida. Um belo dia, ele começa a prestar atenção nas tais "artes de rua" e parte para filmá-las. Não satisfeito, ele passa a tentar filmar esses artistas fazendo seu trabalho noturno, nos mais diversos lugares. Mais para frente, sua obsessão para ser achar a mitológica figura de Banksy, o mais famoso dos artistas de rua. 

E vou parar por aqui pois, se eu contar mais sobre esse filme, ele perde seu poder. 

O que fica são várias perguntas, do tipo "quem é Thierry Guetta?", "quem é Banksy?", "quem filmou quem?", "quem fez o que?", "o que é verdade e o que é invenção?". Essas perguntas fazem parte do processo e eu estou sendo enigmático de propósito. No final das contas, porém, o mais importante é tentar entender o que talvez Banksy - ou seja lá quem fez esse filme de verdade - quis nos mostrar: o valor da arte é absolutamente relativo e nossa percepção sobre até mesmo o que é arte pode estar completamente equivocada ou, ao menos, manobrada de tal maneira que já não conseguimos mais julgar efetiva e imparcialmente. 

Por outro lado e por vias transversas, também fica a seguinte questão: se a arte tem um valor relativo ao gosto pessoal de cada um, talvez pouco importe que sejamos doutrinados a "gostar" de determinada obra. Essa manobra, se passar ao largo do indivíduo, pode não ser importante para desbancar o valor dessa ou daquela obra se o indivíduo tiver sido convencido, de alguma maneira, que aquela arte é boa em seus olhos. 

Eu sei, não fui lá muito claro mas é que esse filme/documentário mexeu com meus neurônios. Fica então uma crítica enigmática para uma obra deliciosamente enigmática. É ver para crer.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 10 de 10 

3 comentários:

  1. Olá! Sempre um prazer ler suas críticas. Voltando a este espaço depois de um tempo, fiquei feliz ao ver um documentário por aqui. Recentemente virei um fã de documentários e irei assistir mais este.
    Como, via de regra, suas notas "10" combinam com as minhas, te recomendo um documentário chamado "Dear Zachary" (espero que confie, e veja o filme sem antes ver o trailer). Espero que tb goste.
    Abraço.

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  2. Parece que o documentário nunca foi lançado no Brasil.
    Eis a crítica com o link de um outro site que achei:
    http://filmesecigarros.blogspot.com.br/2011/03/dear-zachary-letter-to-son-about-his.html

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  3. Obrigado pelo elogio e por acompanhar meu blog. Volte sempre, mesmo (ou talvez especialmente) se discordar de alguma coisa que escrevi.

    Sobre "Dear Zachary", já ouvi falar no título mas não sei nada sobre o filme. Nem vou ler a crítica que você indicou e vou dar um jeito de consegui-lo (legalmente pois sou "quadrado" e não baixo nada pirata). Assim que conseguir, farei meus comentários aqui.

    Valeu pela dica!

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."