domingo, 28 de agosto de 2011

Crítica de filme: Green Lantern (Lanterna Verde)

Lanterna Verde é um filme que mostra algum potencial nos primeiros 40 minutos mas, depois, assim como um castelo de cartas, desmorona com um mero sopro. O diretor, Martin Campbell, que nos trouxe os ótimos 007 Contra Goldeneye, A Máscara do Zorro e Casino Royale, não aproveita o material de décadas que tem em mãos e faz um filme burocrático que, apesar de ser cheio de efeitos especiais, não empolga em momento algum.


A DC Comics precisava de um sucesso fora da esfera de influência de Christopher Nolan e de seu Batman repaginado. Tentou ressuscitar seu herói mais famoso, Superman, em Superman - O Retorno, de 2006, e não conseguiu muito mais do que quase refazer o clássico de 1978, retirando, porém, sua alma. Lanterna Verde era a promessa da expansão do universo comum DC mas ficou só nisso: uma promessa. Apesar de o personagem em si nunca ter me empolgado nos quadrinhos pois é mais um daqueles heróis exageradamente poderosos que povoam o universo DC, reconhecia no material um potencial cinematográfico mas que foi maltratado nas telonas.

O filme conta a estória de Hal Jordan (Ryan Reynolds), um destemido piloto da Ferris Aeronáutica que é escolhido por um poderoso anel da Tropa dos Lanternas Verdes para ser o Lanterna Verde do setor espacial onde a Terra se localiza, depois que o Lanterna Abin Sur (Temuera Robinson, o Jango Fett de Ataque dos Clones) morre. A Tropa é uma espécie de força policial do universo e Jordan é o primeiro humano a ser escolhido pelo anel, que canaliza a força de vontade e permite ao seu usuário transformar seus pensamentos em "construtos" poderosos. Jordan logo tem que enfrentar uma ameaça cósmica chamada Parallax, que vive do medo (representando pela luz amarela) e que ameaça a Terra.

Essa é a trama básica. No meio dela, temos um passeio para Oa, o planeta de origem da Tropa para que Hal Jordan acostume-se com seus poderes e onde ele é apresentado a Sinestro (Mark Strong) o líder, Kilowog (voz de Michael Clarke Duncan) e Tomar-Re (voz de Geoffrey Rush). No lado terráqueo da vida de Hal, aprendemos que ele é um irresponsável apaixonado pela bela Carol Ferris (Blake Lively) e que o Dr. Hector Hammond (Peter Sarsgaard), ao fazer a autópsia no corpo de Abin Sur, é contaminado pela energia amarela de Parallax e vira um monstro com poderes de telecinese (ou algo do gênero).

A tentativa dos roteiristas (ou, mais corretamente, da Tropa de Roteiristas responsável pelo filme) de compactar o máximo do universo dos quadrinhos em 114 minutos de projeção faz o tal castelo de cartas que mencionei. Depois de 40 minutos, mais precisamente na hora que deveria ser a mais emocionante do filme (o primeiro ato heróico de Hal Jordan como Lanterna Verde), o que vemos é o desmoronamento total da estória, que deixa às claras os vários remendos que provavelmente foram feitos às pressas, para acomodar as ideias de todos os envolvidos.

É inevitável fazer um paralelo da tal cena de revelação de Hal Jordan como Lanterna Verde com a mesma cena no Superman original, de 1978. Em 1978, Richard Donner ajudado pelo roteiro bem amarrado de Mario Puzo, pelo carisma de Christopher Reeve e pela música de John Williams, montou uma cena que até hoje faz corações se acelerarem. Superman resgatando Lois Lane da queda de um helicóptero não tem defeitos e funciona mesmo hoje em dia. Martin Campbell e seus roteiristas tentam recriar essa cena de Donner, já que, agora, o herói Lanterna Verde tem que resgatar o Senador Hammond (Tim Robbins) e Carol de um acidente de helicóptero. No entanto, o resultado é patético, sem emoção alguma, até mesmo risível diante da pista de "Hot Wheels" que Jordan cria com seu anel. Daquele momento em diante o filme só piora.

A mão pesada de Campbell é muito responsável pela queda de qualidade no filme, mesmo considerando o fraco roteiro. O trauma de Jordan com a morte de seu pai é tratado de maneira simplista e tudo é resolvido com diálogos expositivos longos e chatos, meio que formando um manual de auto-ajuda para heróis principiantes. Não há um arco de crescimento do personagem principal. Ele começa e acaba o filme da mesma maneira.

E o roteiro, novamente, só vai piorando a situação pois ele balança entre uma saga cósmica que poderia ser interessante e uma aventurazinha na Terra contra uma patética nuvem de fumaça. No meio dessa indecisão criativa, Jordan vai para Oa, diz que usar o poder amarelo é errado e pede autorização para salvar a Terra. Como assim autorização? E não é um tropa? E não é a "maior ameaça" que eles já enfrentaram? Por que então Hal Jordan vai se virar sozinho? Uma coisa é o diretor exigir dos espectadores um nível razoável de suspensão de descrença; outra bem diferente é ele jogar pela janela qualquer plausibilidade e possibilidade de o espectador envolver-se no filme.

E olha que Ryan Reynolds nem está tão ruim assim no papel como dizem por aí. Ele até se segura bem. Seu personagem é que foi mal escrito mesmo. E Parallax? Será que não aprenderam com a Fox e seu terrível Quarteto Fantástico 2 que inimigos formados por nuvens pretas não funcionam? Não dá para temer aquele bicho disforme em momento algum pois simplesmente é impossível identificar-se com ele.

Tamanha é a incerteza dos rumos que esse filme vai tomar que nem mesmo a cena pós-créditos, envolvendo a origem de um famoso inimigo de Hal Jordan, faz sentido dentro do filme. Falar mais é estragar a surpresa mas basta dizer que o caminho escolhido pelo tal personagem ao final não tem qualquer relação com suas atitudes durante o filme. É, literalmente, apenas uma cena jogada por lá para criar ganchos - desnecessários, aliás - para uma continuação.

Mesmo com efeitos especiais bacanas (menos a irritante - e inútil - máscara de Jordan) o tenebroso roteiro e um diretor que provavelmente não se empolgou com o que leu destroem um filme que poderia ser até um divertimento sem grandes consequências. No entanto, do jeito que foi feito, Lanterna Verde é uma grande perda de tempo.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 3 de 10

6 comentários:

  1. Não assisti ao filme ainda, e depois dessa opinião, definitivamente, esperarei o DVD. Já tinha ouvido falar mal do filme, e alguns pontos que você coloca perece ter sido realmente unânime nas críticas que li a respeito... Esse vai pra fila de espera.. hehehehe

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  2. A culpa é muito mais dos roteiristas do que do diretor Martin Campbel. O roteiro tem muitos buracos e situações absurdas!

    O vilão Parallax foi muito mal retratado! Não vejo problema em ele ser um tipo de fumaça/nuvem contanto que seja ameaçador. Afinal, o principal vilão da série Lost era justamente uma fumaça preta e sempre causava expectativa quando aparecia!

    Enfim, é uma pena que um personagem com um universo tão rico quanto o lanterna tenha sido tão subaproveitado!

    Mas ainda sim, não é uma bomba como alguns críticos internacionais falaram.

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  3. @ Luiz Santiago: Coloque LV lá no fim da fila de espera...

    @ Rafael: Concordo que a culpa maior é dos roteiristas mas Campbell é um bom diretor e, em LV, ele dirigiu como um autômato. Merece pelo menos 40% da culpa. E sobre a fumaça de Lost, bem lembrado. Diferente de você, acho que ela é outro exemplo que "inimigo fumaça" não funciona. Em Lost, depois da primeira aparição, a fumacinha ficou ridícula. Nenhum senso de ameaça.

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  4. A fumaça de lost não tinha nenhum senso de ameaça? Ela arrasava suas vítimas! E ainda tinha o elemento de "escanear" a mente das pessoas e posteriormente julgá-las!

    Mas enfim, gosto é gosto!

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  5. Rafael:

    Os roteiristas de Lost se perderam completamente e a fumaça foi junto com eles. Era ameaçadora no começo mas, depois, virou só uma curiosidade, isso quando ela aparecia. Nesse quesito, Parallax é mais ameaçador...

    Mas, realmente, devo confessar que não gostei de Lost pelo seu conjunto, com ou sem fumaça preta.

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  6. Claro que a fumacinha de LOST assustava. Principalmente aqueles sons de engrenagens quye ela emitia e ferocidade com que arrastava pessoas e arrancava árvores. lol

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."