sábado, 20 de agosto de 2011

Crítica de filme: The Tree of Life (A Árvore da Vida)

Demorei a tomar coragem para assistir A Árvore da Vida. Tendo assistido a todos os longas de Terrence Malick menos o primeiro, Terra de Ninguém, só havia gostado de Cinzas no Paraíso. Além da Linha Vermelha foi um suplício e eu considero O Novo Mundo um dos filmes mais chatos que vi em minha vida. Assim, esperava o pior de A Árvore da Vida, especialmente depois de ter lido críticas iniciais com longos elogios e explicações metafísicas complicadas.


Mas A Árvore da Vida não é um bicho de sete cabeças, para meu espanto. Não mesmo. Passados os 30 ou 40 minutos iniciais, com uma longa e em última análise desnecessária cena estilo Discovery Channel sobre a origem do universo, com direito a nebulosas, estrelas, impactos de meteoros, vulcões, oceanos e até dinossauros, o filme retoma uma normalidade até bem linear e fácil de acompanhar. Muitas pessoas saíram na sessão vazia onde estava. São os impacientes que não aguentaram as loucuras de Malick nas tais cenas de origem do universo. Devo confessar que não estava confortável na cadeira nessa hora e tive vontade de rir em vários momentos, especialmente nas duas breves cenas com os tais dinossauros. São essas cenas que fazem sorrir os amantes de filmes "complexos", muitos deles com aqueles olhares superiores de quem "sabe tudo de cinema". São essas cenas que permitem a esse pessoal dizer: "ah, mas EU entendi tudo, faz muito sentido".

Bom, minha gente, esse monte de baboseiras espaciais e jurássicas que Malick nos força a ver no início do filme e que agradam tanto o pessoal do "filme francês fora de foco" desaparecem como se nunca tivessem existido, dali para frente. Os dinossauros extinguem-se junto com a vontade de Malick de fazer um filme de alcance comparável a 2001 - Uma Odisséia no Espaço, esse sim uma obra que consegue abraçar de forma competente aa origem do mundo até o futuro longínquo. A Árvore da Vida, apesar das pretensões Kubrickianas, não é muito mais do que um drama familiar sobre a relação de um filho com um pai.

É bem verdade, porém, que a fotografia do filme é belíssima, com cenas para serem saboreadas com os olhos e isso acaba tornando o longo filme de 139 minutos uma interessante experiência para ser vista e sentida muito mais do que meramente entendida, detalhe por detalhe.

Na década de 50, três garotos são criados por sua mãe e pai. O pai, Mr. O'Brien (Brad Pitt, muito parecido em aparência com seu personagem em Inglorious Basterds), é a figura da autoridade e do respeito enquanto que a mãe, Mrs. O'Brien (Jessica Chastain), é a personificação da tolerância e perdão. Tudo é visto, de uma forma ou de outra, pelo olhar do filho mais velho, Jack, vivido maravilhosamente bem pelo orelhudo Hunter McCracken quando jovem (a maior parte do tempo) e pelo insosso e nojentinho Sean Penn quando mais velho. É a relação do filho com o pai que é o norte do filme e é exatamente aí que a trama, apesar de ter uma aparência de complicada e "cabeça" é bem simples.

Se não fosse um filme autoral, a trama não se sustentaria por 15 minutos. Em sendo Malick, os 139 minutos são preenchidos de maneira competente por lentas cenas das crianças interagindo entre si na cidadezinha onde moram, nadando em riachos, fazendo piqueniques e as estripulias normais. Em casa, a rigidez do pai vai em um crescendo, junto com a bela música clássica que toca ao fundo ou que ele mesmo toca no piano ou órgão. A pegada religiosa de Malick, presente em seus filmes anteriores, está bem em evidência aqui, até mesmo com um vislumbre da vida após a morte em uma praia branca em que as pessoas andam e vão se reconhecendo e abraçando aos poucos. São esses "enxertos autorais" que acabam preenchendo a trama e tornando o filme um pouco mais longo - e amalucado - do que deveria ser.

Malick ao tentar emprestar ao filme um alcance que ele acaba não tendo, fracassa de maneira retumbante. No entanto, como drama familiar de cunho autoral, A Árvore da Vida tem bons momentos e até vale ser conferido, mesmo que só pela bela fotografia. Mas há que se ter paciência. Muita paciência e boa vontade.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 6 de 10

8 comentários:

  1. MARAVILHOSO texto! Minha única discordância com você é que eu gosto do Sean Penn, não necessariamente nesse filme, mas gosto dele. Agora, no que concerne ao filme, estou ao seu lado. Inclusive no louvor a "2001 - Uma Odisseia no Espaço"...

    Queria te propor uma coisa: p que você acha de eu fazer uma Especial sobre o Planeta dos Macacos aqui no Cinebulição com seus textos? Cada texto viria com a indicação de utoria, e na Home do Especial o endereço do seu blog para o pessoal redirecionar para cá e conhecer mais. O que acha? Topa?

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  2. Obrigado pelos elogios. Sobre o Penn, é implicância minha, fique tranquilo. Eu não adoro o cara mas respeito o trabalho dele. Nesse filme ele não faz mais do que uma ponta, porém.

    Sobre sua proposta, eu te mandei um e-mail separado mas não sei o que você vai ler primeiro. A resposta é: CLARO QUE TOPO. Sinta-se livre para fazer da maneira como sugeriu.

    Abraço!

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  3. Disse tudo o que eu gostaria de ter dito. Confesso que entrei bem na vibe do filme de princípio, e no final ainda considero um filme bastante acima da média. Mas é bem isso o que você falou, um filme simples sobre relações familiares, acaso e religiosidade com pretensões "Kubrickianas" (sic).

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  4. O filme exige que participemos, que tiremos nossas conclusoes, certas ou erradas, sobre o que está se passando na tela. Sem isso o filme é um amontoado de cenas sobre a vida de um casal. Gostei do início ao fim, até da humanização no comportamento dos dinos, afinal temos todos as mesmas origens.

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  5. Excelente texto.
    Gostei do blog!
    Voltarei aqui outras vezes.

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  6. Em minha visão, não se trata de um filme sobre a relação entre um pai e um filho. Eles apenas representam relações muito maiores, como a do Criador e suas criaturas, a natureza e a graça, a rigidez e o amor. Todas as cenas, inclusive a dos dinossauros, têm uma razão de ser e contribuem para essa visão completa. Se ficasse só no drama familiar, não seria o filme maravilhoso e cheio de significados que é.

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  7. Eu achei o filme extraordinário (bem, nem todos aqui estão para concordar, né? hehe). E olhe que sou bem longe das não linearidades europeias. Acho que suas colocações sobre os atores poderiam ter sido menos sarcásticas e/ou severas, apesar de ter adorado seu texto. Na minha muito humilde visão, é um filme pra quem gosta do movimento surrealista e fico feliz de ver atores americanos como o Sean Penn (que, particularmente, eu adoro) experimentarem novas narrativas. No fim, as duas únicas coisas que achei desnecessárias no filme foram os dinossauros - apesar de compreender, talvez, sua colocação no filme - e a atuação do Brad Pitt. Sinceramente, das atuações, foi a que eu menos curti: muito parecido mesmo com Bastardos Inglórios (o que é aquele queixo pra frente?). Mas, no fim das contas, me senti fluindo no filme. Um dos poucos filmes que não fiquei muito incomodada com o não entendimento e isso pra mim é importante, uma vez que entendo o filme até mesmo como uma maneira de retomar uma estética menos linear. Extremamente artístico.

    Tenho uma dica - já me desculpando antecipadamente caso já haja alguma crítica a esse filme que hei de citar agora: veja o filme Tempo de Embebedar Cavalos. Estética perfeita!

    Gostei bastante do blog e vou visitar mais vezes!

    Abraços!

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    1. Olá, obrigado por seus comentários. Entendo perfeitamente o que disse e, como esse filme é para ser muito mais sentido do que compreendido, é difícil bater o martelo sobre ele ser bom ou ruim. Mais do que em outras obras, ele depende muito do aspecto subjetivo de cada um.

      Mas, dito isso, gostaria de convidá-la a visitar meu novo site - planocritico.com - muito mais completo e com a contribuição de vários editores. E, se você gosta mesmo do surrealismo, saiba que fizemos um especial por lá com a crítica de TODOS os filmes do mestre desse movimento no cinema: Luis Buñuel. Dê só um olhada aqui: http://www.planocritico.com/especial-luis-bunuel/

      Abs e espero te ver lá no Plano Crítico! - Ritter Fan

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."