terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Crítica de filme: Immortals (Imortais)

Exatamente como 300, Imortais quase não tem roteiro. No lugar de estória e espelhando o filme de Zack Snyder, temos belos visuais estilo videogame em computação gráfica, torsos masculinos muito bem delineados (com ou sem computação gráfica, não sei), belas mulheres como vieram ao mundo e muito sangue derramado em câmera lenta da maneira mais dolorosa possível. Será, então, que, mesmo assim, o filme consegue sobreviver e manter-se com um mínimo de qualidade que justifique uma visita ao cinema?


Eu diria que a resposta é um hesitante sim. 300 era novidade e a simplicidade do roteiro conseguia empolgar por ser uma estória extremamente heroica e, ainda que com enormes doses de licença poética, baseada em fatos históricos. Tarsem Singh, em Imortais, não traz absolutamente nada de novo para a mesa. Ele apenas pegou o estilo 300 de ser, misturou com boas doses de pseudo-mitologia grega à la Fúria de Titãs e colocou tudo em um liquidificador. Esqueceu-se, porém, de misturar uma pitada de roteiro e, por isso, a gororoba resultante acabou ficando um pouco mais rala que de costume.

Singh não é um novato em filmes visualmente deslumbrantes e vazios de conteúdo. Fez A Cela e The Fall que seguem exatamente essa mesma combinação. Mas em Imortais, como disse, ele deixa o roteiro completamente de fora da equação, coisa que, ainda que discretamente, está presente em seus filmes anteriores.

O "roteiro" montado por Charley e Vlas Parlapanides é um grande exemplo de preguiça mental e confiança na imbecilidade dos espectadores. Quase não dá para chamar de roteiro. E não estou falando em plausibilidade pois isso eu não espero de um filme com a premissa de Imortais. Mas eu espero sim que os roteiristas saibam criar uma conexão da estória com seu personagem principal (no caso, com Teseu, vivido por Henry Cavill, o próximo Superman).

Acontece que os Parlapanides não só se esforçam para fazer algo que não tenha quase nenhuma relação com a mitologia grega, a não ser alguns nomes jogados aqui e ali, como, também, contam uma estória que acontece apesar de Teseu. Nada que Teseu faz (a não ser achar o Arco de Épiro, que ele logo perde) funciona para impulsionar a trama. Chegam a ser patéticas as tentativas de colocar Teseu em situações heroicas, exigindo enorme esforço do personagem, mas que, no final das contas, não servem para absolutamente. Querem um exemplo? Vamos lá: desde o começo martelam em nossas cabeças que Teseu será importante pois é o único que poderá unir os soldados gregos contra o Rei Hyperion (Mickey Rourke). Quando chega o momento de fazer isso, ele realmente consegue unir os soldados (isso não é spoiler, fiquem tranquilos) mas a batalha que se segue não altera em nada o que Hyperion faz em seguida. Chega a dar pena do coitado do Teseu....

A estória, baseada muito livremente na mitologia grega, segue as desventuras de Teseu e da oráculo Phaedra (Freida Pinto) para se vingar do Rei Hyperion pela morte de sua mãe. O Rei, por sua vez, quer se vingar dos Deuses que não ouviram suas preces e deixaram sua família morrer. Para fazer isso, ele quer ir até o Monte Tártaro para, com o tal Arco de Épiro, libertar os Titãs (que, nada mais são - no filme - do que Deuses que foram derrotados por Zeus e sua turma em tempos imemoriais).

Zeus é interpretado por Luke Evans e ele prega que os Deuses não devem interferir nas relações humanas. No entanto, logo de cara e disfarçado de humano (John Hurt), Zeus deixa claro que Teseu - a única salvação da humanidade - é um produto seu, já que ele o treinou. Quer dizer que interferir como humano pode mas como um deus não? Huummm, muito lógico isso. E o pior é que na inevitável batalha entre os Deuses do Olimpo e os Titãs - da qual Teseu não participa, lógico, pois o coitado tem que cumprir missões inúteis o filme inteiro - descobrimos que ambas as raças morrem facilmente, com um corte de espada aqui, uma decapitação ali.

Quem acha que Imortais é mitologia grega, faça um favor a você mesmo e leia alguma coisa sobre o assunto. Mitologia por mitologia, fique com Fúria de Titãs. O único resquício de tentativa de acerto é a luta de Teseu contra o Minotauro (chamado apenas de The Beast) no labirinto. Achei a releitura do mito muito bacana e apropriada para o filme, ainda que, de novo, a briga em nada impulsione o filme.

O que sobra então do filme? Ora, como eu disse, o visual é bacana, ainda que obviamente gerado por computação gráfica e há muito sangue e corpos bonitos (para ambos os gostos). Assim, se vocês olharem por esse aspecto, o filme passa como um divertimento absolutamente - ênfase no absolutamente - descerebrado que tinha o potencial de ser muito melhor. Não é o lixo total que dizem por aí mas está longe até de chegar ao nível de 300.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 5 de 10

8 comentários:

  1. nenhum comentario sobre a versao 3D, ou o fato que a Freida Pinto nao possui nenhum talento?

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  2. Cara, eu não vejo mais filmes em 3D. Cansei dessa brincadeira que, na grande maioria das vezes, é só uma jogada para arrancar mais dinheiro dos espectadores.

    Sobre a Freida Pinto. Ela tem um talento: é muito fotogênica! :-)

    Abraço!

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  3. estou gostando dos comentários dos filmes. Que tal uma critica do filme The iron lady ( A dama de ferro)

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  4. Sebastião, obrigado por prestigiar meu blog!

    Farei sim meus comentários sobre The Iron Lady mas somente mais próximo da estreia no Brasil ou da cerimônia do Oscar, o que vier primeiro.

    Abraço.

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  5. O PIOR FILME DE TODOS OS TEMPOS !!!
    DOIDO E QUEM ACHOU O FILME BOM,DOIDO NÃO SERIA UM ELOGIO
    DOENTE MESMO !!!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Meu caro, você pode até ressalvas quanto ao filme Imortais, mas agora usar Fúria de Titãns como referência mitológica já acho exagero de sua parte. Consultei e li bastante a respeito de mitologia grega e por fim conclusões foram unânimes: o roteiro deturpou toda história. Entendo e respeito sua opinião mas nunca deve ser usada como referência.
    Abraço

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    1. Apolo, acho que você me interpretou mal. Veja o que disse sobre Fúria de Titãs na crítica: "pseudo-mitologia grega à la Fúria de Titãs".

      Ou seja, eu sei que Fúria de Titãs também faz uma bagunça com a mitologia grega, MAS, e isso é importante, perto de Imortais, Titãs parece um livro de história de tantos acertos...

      Abs, Ritter.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."