Os Homens que Não Amavam as Mulheres é o primeiro livro na chamada trilogia Millenium, nome extraído da revista que o personagem principal, Mikael Blomqvist, publica na Suécia. Escrito pelo prematuramente falecido autor sueco e jornalista Stieg Larsson, esse livro inaugurou uma febre pela trilogia, resultado em sua adaptação também para uma trilogia de filmes suecos (todos produzidos a toque de caixa e lançados em 2009) e, agora, uma nova adaptação, dessa vez norte-americana e ainda só desse primeiro livro, pelo diretor David Fincher.
Acontece que eu me sinto forçado a nadar contra a correnteza e afirmar que o livro é bonzinho apenas, quase medíocre, longe de ser sensacional como dizem por aí. E eu explico minhas razões para essa conclusão.
A trama começa lentamente com Blomqvist sendo condenado à prisão e ao pagamento de indenização por calúnia a um industrial sueco (Hans-Erik Wennerström) em vista de uma reportagem que escreveu. Blomqvist sabe que fez besteira e sabe que merece a condenação, mas também sabe que Wennerström é sujo e que esse baque destruirá sua carreira e, provavelmente, sua editora.
Mas eis que ele é convocado pelo industrial sueco aposentado, Henrik Vanger, para investigar a morte de sua sobrinha, Harriet, há 36 anos. Vanger desconfia fortemente que alguém de sua família foi o assassino e, por isso, diz que a função de Blomqvist é escrever sua biografia, o que dá a perfeita desculpa para ele entrevistar os demais membros da família. A sardinha que Vanger balança na frente de Blomqvist para que ele aceite a missão quase impossível é a promessa de revelação de informações importantes que demonstram a sujeira por detrás do império de Wennerström. Mais para frente, para ajudar Blomqvist, a estranhíssima "geninha punk traumatizada" Lisbeth Salander (a tal "garota com a tatuagem de dragão", do título desse livro e dos filmes em inglês) é trazida para a trama.
A estória em si é muito interessante, pelo menos em sua concepção. O problema é a execução. Para começar, Larsson investe páginas e mais páginas para discutir o dilema moral por que passou - e ainda passa Blomqvist - considerando que, mesmo sendo ele um consagrado jornalista, falhou ao apurar fatos sobre Wennerström para criar um artigo de cunho sensacionalista. Essa parte da estória é tudo que nós não esperamos de um romance sobre a investigação de um crime e é essa parte, na verdade, que me chamou mais atenção pelo seu frescor e originalidade. Todos os detalhes das razões que levaram Blomqvist a fazer o que fez são explorados, construindo um personagem complexo e muito interessante.
Mas aí Larsson meio que esquece essa parte da trama e começa uma nova, relacionada com a investigação do crime no seio da família Vanger. Seria ótimo se uma parte tivesse efetiva influência sobre a outra mas, na verdade, são duas estórias separadas que se encontram só bem no finalzinho e, mesmo assim, por um deus ex machina bem safado. E, pior, a investigação, levada à cabo na desolada e gelada região onde mora a família Vanger, é pouco interessante, com uma resolução apressada e dois epílogos patéticos, forçados e extremamente óbvios.
Toda a personalidade interessante que Larsson incutiu em Blomqvist na primeira parte dá lugar a um cara chato, amargurado e com pouca vontade de fazer alguma coisa. Em cima disso, o autor ainda introduz Lisbeth Salander com suas próprias e também interessantes estórias particulares, a principal delas envolvendo estupro e vingança. No entanto, Salander é aquele personagem-armadilha, criado para mostrar como o autor é "bom" e como os leitores engolem qualquer coisa. Não que Salander não seja intrigante mas, dentro da trama maior, ela parece uma maneira que o autor encontrou para "encher linguiça". Ela é magérrima, calada, super nerd e inteligente. Além disso, tem uma certa beleza, é órfã, toda tatuada e sem uma definição sexual pré estabelecida. Ou seja, uma perfeita maneira de fisgar um público que precisa de personagens "fora do comum", "bacanas" e que desafiam o "senso comum".
No entanto, Salander é um personagem forçado no livro, uma muleta na verdade. Ela está ali mais para desfilar suas esquisitices e traumas do que para contribuir para a resolução do caso ou mesmo para o andamento da estória. Aliás, ela pouco faz de verdade.
E os dois epílogos são de dar dor nos olhos. Um deles, relacionado à uma surpresa (que não contarei, fiquem tranquilos) é tão óbvio que me fez rir. Fico imaginando se alguém que não seja marinheiro de primeira viagem em livros de mistério e crimes realmente não descobriu o que acontece no final no máximo lá pela metade do livro. O outro, já voltando para a estória de Wennerström e meio que mal e porcamente fechando o círculo, é empurrado goela abaixo além de ser tratado de maneira apressada pelo autor.
Mas vejam: não é um livro terrível. Apenas não chega a ser realmente bom. Ele até diverte por algumas horas se você não for exigente mas não esperem muito mais que isso.
Nota: 5 de 10
Pelo o título é um livro que não me chama atenção para a leitura, portanto não me interessei em ler e, agora com sua critica não vou ler mesmo, se quero ler livro de investigação criminal leio Agatha Christie.
ResponderExcluirParabéns fazendo critica também de livros gostei poderia sempre postar a critica de um livro. a cabana, a menina que roubava livros, o caçador de pipas, a cidade do sol, ponto de impacto
ResponderExcluirNão concordo com sua visão de Lisbeth como uma personagem muleta, na verdade, ela tem o seu charme por suas diferenças, e tal,concordo, mas tá longe de ser muleta, talvez no primeiro livro isso não fique tão claro, mas sim Lisbeth é a principal, eu diria mais até que Mikael. Ela é uma mulher vítima de violência ( ódio dos homens que não amam as mulheres), e seu modo de agir, seu senso de justiça mira justamente esses homens e essa sociedade que comete ações e violência contra as mulheres, é a sua vingança, os dois livros seguintes, continuam nessa trajetória, e o caso investigado é justamente Lisbeth, e uma série de acontecimentos, violência que viveu desde a sua infância. Ela é o tema dos livros seguintes (apesar de achar toda a história sobre ela pouco realista), mas é. Mikael é por assim, uma imagem do autor do livro, tendo bastante similaridade com ele, pode se dizer que é o principal, pode, mas Lisbeth é mais ao meu ver, e é além de tudo o reflexo do tema principal investigado.
ResponderExcluirConcordo com você, Cíntia. Confesso que esperava ansioso por cada capítulo que tratava de Salander. Personagem de uma singularidade e originalidade cativante. Estou ansiosíssimo para ver o filme norte-americano do livro 1(chega para mim semana que vem com o volume 2 da Trilogia Millennium) e iniciar a leitura dos volumes seguintes. Um abraço.
ExcluirConcordo com o ponto de vista da Cíntia. Salander está longe de ser uma personagem muleta. Citando apenas um exemplo, diante de tantos, ela quem desvenda toda a sujeira de Wennerström. E mais: ela é aquela pessoa que todos desprezam e julgam, mas que choca com seus comportamentos e temperamentos muitos deles inesperados. Ela é um espelho que tem o poder de revelar males coletivos.
ExcluirDevorei o livros nestas duas últimas semanas (não o concluí antes devido ao tempo escasso de lazer que tenho) e defino-o como um livro bárbaro e de um enredo muito bem estruturado e interessante. A temática, muito pouco explorada em livros, cativa por sua singularidade e os personagens, em especial Lisbeth Salander, nos prendem na história e ao término garantem aquela sensação gostosa de "quero mais". Semana que vem inicio "A menina que brincava com fogo" já com muitas expectativas. Pelo que li de vários críticos e leitores da Trilogia, não me decepcionarei.
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