sábado, 17 de setembro de 2011

Crítica de quadrinhos: The New 52 (Os Novos 52) - O novo Universo DC - Parte 1


A DC Comics vem alardeando há tempos uma reformulação total de seu universo, uma espécie de recomeço mas sem exatamente apagar tudo que veio antes. Para fazer isso, selecionou 52 títulos entre já existentes e completamente novos e deu a eles um número um, inclusive clássicos que nunca tiveram a cronologia zerada como Action Comics e Detective Comics. Desde o dia 31 de agosto, com Justice League, a DC vem, então, lançando, semana a semana, seu novo universo.

Como características principais desse novo universo temos a reformulação da origem e de uniformes de alguns heróis clássicos (Superman é o que realmente chama mais a atenção), a integração de universos diferentes dentro da continuidade normal (Swamp Thing da Vertigo, antes DC, definitivamente volta ao universo comum, assim como outros personagens) e uma espécie de "compressão temporal", digamos assim, em que a premissa básica sobre os heróis no mundo é que eles não existiam há mais de 5 anos. As revistas são divididas entre aquelas que se passam no começo do estabelecimento dos heróis, época em que, de acordo com a premissa, eles eram temidos e odiados e outras que se passam hoje em dia, com os heróis já com sua reputação determinada.

Definitivamente, é uma proposta arriscada mas não deixa de ser interessante. É claro que, por detrás disso tudo, há a sana de capitalizar em cima de propriedades que já não estavam dando tanto dinheiro, já que o lançamento de "números ums" sempre vende mais do que o normal. Justice League, por exemplo, segundo a DC, teve pedidos de 200 mil exemplares, algo incrivelmente alto para os Estados Unidos mas que, se comparado com a nossa Turma da Mônica, que vende 400 mil por mês só da versão "jovem" da série, é bem baixo. Mas temos que considerar que, nos EUA, a forma de distribuição de quadrinhos é bem diferente. Com a estratégia de recomeço, a DC resolveu, também, pela primeira vez, lançar todos os seu títulos simultaneamente em formato digital, para o horror das "comic shops" nos EUA.

O que eu desconfio, porém, é que, como esse novo universo vem logo depois de uma estória envolvendo realidades paralelas com o Flash, chamada Flashpoint, a DC esteja na verdade fazendo uma espécie de test drive. Se der certo, eles continuam com o universo novo. Se der errado, assim como o "sonho" de uma temporada inteira de Bob Ewing em Dallas ou como aquela tentativa fracassada de novo universo na Marvel chamada de Heroes Reborn, eles voltam atrás apenas se aproveitando de elementos que "deram certo" no novo universo.

Para fins de total transparência, devo dizer que, quando mais jovem, eu lia indiscriminadamente DC e Marvel mas eu confesso que nunca realmente gostei da DC (a não ser do Batman), apesar de essa editora ser responsável, talvez, por algumas das melhores estórias em quadrinhos mainstream já publicadas como A Piada Mortal, O Cavaleiro das Trevas e Watchmen, isso sem contar com tudo que o selo Vertigo faz e do qual sou fã incondicional.

Mesmo assim, resolvi dar uma nova chance à DC e decidi usar o The New 52 como "ponto de entrada". Aqui vão meus breve comentários sobre cada um dos lançamentos das primeiras duas semanas:


Action Comics # 1



Essa revista talvez seja a que traz mais novidades. Ela enfoca o começo da "era dos heróis" e trata de Clark Kent ainda se adaptando aos seus superpoderes. Ele não é exatamente Superboy, mas sim uma versão não tão adulta de Superman que nem mesmo uniforme usa. Usa uma bota de obras, calça jeans, uma camiseta com o famoso símbolo e uma capinha pendurada no pescoço. Ele é totalmente seguro de si mas ainda sangra, fica cheio de hematomas e não consegue voar, só pular que nem o Superman original. Muito boa essa caracterização, algo diferente para variar.

Como não poderia deixar de ser, Lex Luthor é apresentado e ele não foge tanto da caracterização mais moderna do personagem. Mas sua animosidade em relação a Superman parece ter uma origem diferente, mais relacionada com a origem alienígena do herói. Há boas estórias por detrás dessa intrigante premissa.

Essa vale o investimento.

Animal Man # 1

Nunca li Animal Man antes. Nunca me interessou. Mas sei quem ele é: Buddy Baker, um cara que tem poder de se conectar com os animais e usar seus poderes. É o "Manimal" dos quadrinhos, com um grande "A" bem na frente do uniforme laranja tradicional que, na reformulação (out talvez antes, não sei), torna-se azul e braco (mas o "A" continua).

De toda forma, a estória, escrita por Jeff Lemire do excelente Sweet Tooth da Vertigo é, no mínimo, intrigante, envolvendo um "defeito" nos poderes do herói, misturado com um macabro sonho que ele tem com sua família (ele tem mulher e um casal de filhos pequenos). A arte de Travel Foreman é um pouco estranha mas não chega a comprometer.

Tem potencial.


Batgirl # 1

Barbara Gordon está de volta sob o manto da Batgirl mas, ainda bem, sua desgraça pessoal contada em A Piada Mortal não é esquecida, mas sim reiterada e reduzida no tempo, com base na tal "compressão temporal" que mencionei. Quem não conhece A Piada Mortal, sugiro a leitura, ainda que ela não seja essencial para entender esse número 1 já que tudo fica bem explicado.

Livre de sua prisão pessoal e com um uniforme novo bem bacana mas ainda próximo do original, Barbara resolve sair de casa para ter sua própria vida, ao mesmo tempo que um novo e estranho inimigo chamado Mirror aparece, com o nome dela na lista de alvos. A revista se desenvolve bem, com roteiro bem amarrado de Gail Simone e linda arte de Ardian Syaf.

Essa vale o investimento.

Batwing # 1

Esse herói definitivamente não é do meu tempo. Foi criado em 2011 por Grant Morrison para a série Batman Incorporated e, agora, ele ganha uma revista solo.

Batwing é David Zamvimbi, policial do Congo (África) que, patrocinado por Batman, virou um vigilante mascarado, uma variação mais tecnológica do próprio homem-morcego. Nessa revista, ele tem que lidar com Massacre, um inimigo enfurecido que mata a torto e a direito. Trama bem objetiva de Judd Winick e arte bem mais ou menos de Ben Oliver.

Tem potencial, mas não muito.





Detective Comics # 1

Escrito e desenhado por Tony Salvador Daniel aqui temos o tradicional Batman contra o tradicional Coringa mas de uma maneira muito mais adulta e séria do que usualmente os vemos, pelo menos fora das graphic novels. Essa revista inicia alguns mistérios interessantes e um final bem intrigante que, se a DC seguir em frente dessa mesma maneira, pode gerar uma estória realmente épica e muito macabra.

Acertadamente, Batman é o herói que sofreu menos mudanças nessa reformulação toda. Manteve o uniforme quase intacto e sua personalidade, brinquedos tecnológicos e inimigos são os mesmos. Para que mudar algo que já estava dando certo, não?

Essa vale o investimento.

Green Arrow # 1

A caracterização de Oliver Queen, aqui, é a de um Batman vestido de verde e com arco e flecha. Não é o Oliver Queen que me lembro. Assim, o resultado é extremamente clichê ainda que a arte de Dan Jurgens com cores de George Pérez tente compensar um pouco a falta de imaginação do roteiro de J. T. Krul.

Não vale nem ler.












Hawk & Dove # 1


Eu me lembro dessa dupla quando eles eram dois irmãos. Um deles - o Dove - morreu na famosa Crise nas Infinitas Terras da DC e meu conhecimento parou ali. E o interessante nessa revista é que "Crise" é mencionada como se tivesse ocorrido nesse novo universo. Será mesmo? Muito estranho.

De toda forma, essa revista é, basicamente, Hawk reclamando da vida o tempo todo e Dove guardando um mistério sobre sua origem.  No meio disso tudo, os dois brigam contra zumbis em uma trama muito pouco inspirada e desenhada nas (des)proporções, digamos, exageradas, de Rob Liefeld.

Não vale nem ler.




Justice League # 1

Aqui, a proposta da DC é nos mostrar a origem da Liga da Justiça e, por isso, não apresenta, ainda, todos os seus componentes. É, basicamente, um embate de palavras entre Batman e o Lanterna Verde (encarnação Hal Jordan). Batman é o Batman de sempre mas o Lanterna é caracterizado como um fanfarrão, que acha que é o cara mais poderoso do mundo. É interessante na primeira página mas ler as gracinhas de Hal Jordan (roteiro de Geoff Johns) por toda a revista é um tanto repetitivo. Vemos, ainda, Ciborgue (que, na minha época, era dos Novos Titãs) em sua versão 100% humana e, ao final, a promessa de um embate físico clássico, que pode ser interessante.

A arte, de Jim Lee, é fantástica como sempre e merece ser conferida.

Tem potencial.

Justice League International # 1

Enquanto a Liga da Justiça é um grupo informal, sem sanção governamental, a Liga da Justiça Internacional é um grupo formado pelas Nações Unidas para combater ameaças mundiais. Como a ONU precisa de controle sobre as ações dos heróis, os escolhidos para a composição da Liga são heróis de 15ª categoria do universo DC: Booster Gold, Fire (uma heroína brasileira, com nome pouco inspirado), Ice (outra com nome patético), Vixen (seja lá o que seja isso), Rocket Red, August General in Iron (sério, isso é nome?) e Godiva (pelo menos nessa revista, a heroína mais inútil que já vi).

Há a participação do Lanterna Verde na encarnação de Guy Gardner, que compôs a Liga da Justiça Internacional naquela encarnação pretensamente humorística e profundamente irritante de Keith Giffen e J.M.  de Matteis.

Com tanto heroizinho porcaria, a DC não arriscou e martelou Batman dentro dessa Liga e tudo acaba ficando muito ridículo, culminando com a "ameaça" que eles enfrentam ao final.

Não vale nem ler.

Men of War # 1

Quando li que a DC iria fazer quadrinhos de guerra resgatando o Sgt. Rock lá da década de 50, gostei muito da idéia. E a revista nos apresenta a um experiente cadete Rock que só não sobe na carreira por causa de sua desobediência crônica. No entanto, ele é tão bom no que faz, que tem o respeito de todos os seus colegas.

O começo é bacana mas, quando Rock vai para a missão principal, o roteirista Ivan Brandon introduz seres superpoderosos (que apenas vemos de silhueta, menos mal) e aí a estória perde a graça. Um gibi de guerra deveria ser de guerra, ainda que tecnológica. Colocar seres superpoderosos no meio retira a importância do Sgt. Rock. Mas vamos ver, de repente melhora.

A revista tem ainda uma estória extra sobre outro grupo de soldados que, por ser verdadeira e puramente uma estória de guerra, é melhor que a estória principal.

Tem potencial.

OMAC # 1

OMAC é uma criação um tanto obscura de 1974 do mestre Jack Kirby. Talvez por isso, a arte de Keith Giffen e Dan Didio seja quase que completamente sugada do estilo "kirbyano". Não é ruim. Ao contrário pois dá até saudades.

Mas OMAC, sigla para One Man Army Corps, uma espécie de Hulk cibernético, tem uma estória bastante amalucada que não faz muito sentido, pelo menos não ainda. Vemos basicamente OMAC invadindo uma instalação de biotecnologia chamada Cadmus para acessar o mainframe. É só destruição e mais destruição, sem parecer uma estória minimamente completa. Talvez para quem tenha acompanhado estórias passadas desse sujeito, os detalhes se encaixe melhor mas o que li não me atraiu. Se fosse só pela arte, tudo bem mas arte bacana com estória fraca não dá.

Não vale nem ler.

Static Shock # 1

Estranha escolha para uma revista solo essa. Static (e não Static Shock como o título da revista) é um herói originalmente de um universo paralelo que já havia sido absorvido pelo universo DC. Não tem muita relevância, apesar de já ter ganho até uma série animada própria.

De toda forma, a revista mostra Static em Nova Iorque lutando contra, basicamente, uma bola preta que ele chama de Sunspot. Ele parece o Homem-Aranha em termos de falar pelo cotovelos durante as brigas mas com o sério agravante de só falar coisa chata, pseudo-científica. A trama complica mais para o final com a entrada de um grande clichê dos quadrinhos: um grupo secreto que quer eliminar o rapaz por que ele talvez saiba do "grande" plano deles. Pífio.

Não vale nem ler.

Stormwatch # 1

Stormwatch é um grupo de super-heróis criado por Jim Lee dentro do universo Wildstorm. Agora, o grupo é trazido e mesclado ao universo DC e tratado como uma espécie de grupo milenar de guerreiros que protege a Terra de ameaças alienígenas. A revista inteira mostra, principalmente, três dos heróis (um dele se revela como o Caçador de Marte, membro da Liga da Justiça) recrutando Apollo, que eles chamam de o mais poderoso dos humanos.

Como primeiro número de uma revista de um universo recomeçando, Stormwatch é hermética demais e com texto (de Paul Cornell) pouco atraente.

Não vale nem ler.



Swamp Thing # 1

O Monstro do Pântano é um dos personagens mais bacanas da DC em minha opinião. Nasceu na década de 70 em estórias de terror pelas mãos de Len Wein e Berni Wrightson, ganhou título próprio, sofreu uma incrível reformulação na mão do gênio dos quadrinhos Alan Moore e, com isso, "saiu" do Universo DC e foi parar no selo Vertigo, mais autoral. Sei que o mostro volto ao universo DC muito recentemente em uma saga importante que não li e nem quero ler e, agora, volta a ter uma revista própria em seu universo original.

Alec Holland, o Monstro do Pântano mais famoso (já que o primeirão mesmo foi Alex Olsen) aparece em Swamp Thing # 1 vivinho da silva e sem sua persona de Monstro do Pântano. Ele desconfia, porém, que há algo de errado mas pouco é desenvolvido nesse sentido na estória, ainda que Scott Snyder (o ótimo autor de American Vampire) deixe nas entrelinhas do ótimo roteiro que criou um vasto universo para explorar. A premissa básica é o surgimento de um monstro no deserto e alguns eventos estranhos que permeiam o universo DC logo na primeira página.

O defeito dessa estória é a necessidade de se ter Superman nela. É falta de confiança da DC em deixar o Monstro do Pântano realmente sozinho? Acho que sim. Mas espero que tenha sido algo introdutório apenas e que o azulão não apareça por essas bandas tão cedo.

Essa vale o investimento.

3 comentários:

  1. Nossa! Gostei muito deste post. É bom poder comparar minhas impressões com as de outra pessoa. Concordo com boa parte de sua análise, eu só mudaria
    Liga da justiça internacional – OK! (parece que sou a única pessoa que gostou dessa).
    Men of War – passar longe
    Abraço e parabens pelo blog bacana.

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  2. Até gostei de algumas criticas construtivas e muito bem escritas mais não perderei meu tempo lendo tanta arrogância. Assim sendo "quem entende a alusão estabelece uma relação privilegiada com o texto. (ou com a voz narradora), quem não entende segue adiante da mesma forma(ECO 2003 pag. 204). E para opinar é preciso saber do que assunto a tratar, caso contrário não há como opinar, você pode encontrar isso em Cícero.
    Obrigado

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    1. Uau! Fiquei até arrepiado agora com tanta erudição...

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."