E por que falar dos anos 80? Bom, Super 8 é uma espécie de ode ao filme de ação juvenil daquela década. Mais especificamente, é uma ode ao estilo "spielberguiano" de criar filmes. E vejam que não estou falando necessariamente do estilo "spielberguiano" de dirigir filmes já que o toque de Spielberg está presente em diversos filmes que ele apenas produziu na década de 80. Desde Poltergeist, Gremlins, Os Goonies e De Volta para o Futuro, passando por O Enigma da Pirâmide, Um Dia a Casa Cai, Fievel e acabando (nos anos 80) com O Milagre Veio do Espaço e Uma Cilada para Roger Rabbit, a mente criadora de Spielberg se fazia onipresente. Eram filmes para fazer os olhos das crianças e adolescentes brilharem e para os adultos baterem palmas e se emocionarem. Falem o que quiser do Spielberg de hoje em dia (que ele perdeu a mágica, não é mais o mesmo etc.) mas, na década de 80, ele tinha domínio total sobre a arte de se fazer um tipo de cinema que, creio eu, jamais voltará a ser feito com a mesma constância. São filmes levemente infantis, com belas mensagens e muita magia mas, sobretudo, com um elemento humano que, hoje, infelizmente, está sendo substituído por explosões e computação gráfica.
Mas mesmo aqueles que têm implicância com Spielberg e seu jeito de fazer cinema, não precisam se preocupar. Super 8 oferece mais, ainda que seja uma produção do próprio Spielberg. Acima de tudo, Super 8 é um filme sobre a paixão de se fazer cinema. Afinal, o filme conta a estória de umas crianças que, em pleno 1979, querem fazer um filme de zumbis usando uma câmera super 8. Em determinado momento, porém, eles testemunham um misterioso - e estrondoso - acidente de trem e tentam entender os acontecimentos que se seguem.
As cenas em que as crianças estão filmando seu filme são primorosas. Tudo é visto sob o olhar de Joe Lamb (Joel Courtney) que, não tem muito tempo, perdeu a mãe em um acidente. Seu pai, Jackson (Kyle Chandler), faz o melhor que pode para cuidar sozinho do filho mas sua profissão de policial da cidadezinha de Ohio onde moram o impede de ter a proximidade que gostaria com Joe. Na outra ponta, há Alice Dainard (Elle Fanning), que é convidada para participar do filme e acaba aceitando mais para fugir e desafiar o pai beberrão e infeliz do que qualquer outra coisa, mas acaba encontrando em Joe uma espécie de alma gêmea. A importância da família é algo latente no filme. Joe tem um lar destroçado; Alice tem um lar em vias de ser destroçado e o diretor do filme de zumbi, Charles (Riley Griffiths) vive em um lar frenético, com seus vários irmãos e pais muito presentes. É uma delícia ver esse tipo de dedicação à família que o filme tem até mais ou menos sua metade.
Depois, com o mistério se intensificando e com a cidade sendo evacuada e tomada pelo exército, J.J. Abrams (o diretor) passa a ser muito mais influenciado por seu Cloverfield do que pelo E.T. de Spielberg e aquele ar nostálgico dos anos 80 acaba abrindo espaço para um filme de ação normal, como esperamos de qualquer diretor atual. No terço final então, Abrams rende-se quase que completamente à pirotecnia e o charme do filme vai para o ralo.
Não é o suficiente para estragar o filme. Longe disso. Mas seu tom fica tão genérico ao final que Abrams quase que consegue desmontar todo o trabalho que cuidadosamente esculpiu nos dois terços iniciais do filme. Ainda diverte e até assusta bastante mas Abrams perdeu a oportunidade de fazer uma pequena jóia oitentista em pleno 2011.
E Super 8 marcou, também, a primeira que vi um filme na primeira sala no formato IMAX do Rio de Janeiro. Devo dizer que, em termos de som e qualidade da imagem, fiquei muito bem impressionado. O acidente de trem no começo do filme é de tirar o fôlego com o som arrasador do sistema. Já o tamanho da tela, como eu já tive a oportunidade de assistir vários filmes na tela IMAX em seu tamanho original (com uns 8 andares de altura), a tela do UCI do New York City Center realmente não impressiona. Para quem tiver interesse, dêem uma olhada nesse site (em inglês) que fala da diferença de tamanho das telas IMAX. Há um comparativo visual que pode ser entendido facilmente. A tela do NYCC está muito mais para o tamanho da tela do Empire 25 (se chegar a tanto) do que para a outra, do Lincoln Square. Em suma: o IMAX aqui do RJ (e creio que os de SP e do Paraná sejam iguais) vale como uma curiosidade apenas pois não chegam aos pés da experiência visual que é a tela realmente gigante.
Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.
Nota: 7.5 de 10
Adorei tudo no filme... Me senti de volta àquela época tão deliciosa da minha infância, regada a filmes como ET e Goonies.
ResponderExcluirÓtimo texto.
Abs.
Pois é, o filme transpira uma sensação nostálgica deliciosa. Grande filme, um dos melhores desse ano.
ResponderExcluirhttp://cinelupinha.blogspot.com/