Mas não achem que Almodóvar deu uma de M. Night Shyamalan e criou um filme que depende do final surpresa. Para começar, as revelações não são ao final mas sim organicamente inseridas ao longo do filme. No entanto, o senso de confusão inicial é, talvez, tão integral ao filme quanto as diversas cenas para lá de intrigantes e geniais que povoam a mais nova obra desse grande diretor espanhol.
O que eu posso dizer sobre o filme sem contar quase nada de relevante é que ele estrela Antonio Banderas (junto com Almodóvar, depois de 21 anos) no papel do cirurgião plástico aposentado Robert Ledgard. Ledgard abandonou a profissão e montou um laboratório em casa para desenvolver uma pele resistente às mais diversas ameaças. Em sua casa, moram sua empregada Marilia (Marisa Paredes) e uma misteriosa mulher que ele usa como cobaia, chamada Vera (Elena Anaya).
Durante algo como 40 minutos no início do filme, Almodóvar comanda esse filme como se fosse um labirinto em que o todo é escondido por trás de pistas colocadas aqui e ali mas nunca verdadeiramente revelado. Em determinado momento, fazendo uso de um bem construído e longo flashback, as peças começam a se encaixar nesse quebra-cabeças cinematográfico. Por isso é que eu acho que essa confusão inicial precisa ser preservada para que o espectador a sinta ao menos uma vez, ainda que esse filme mereça ser visto novamente. Os eventos reveladores tornam-se ainda mais chocantes e geniais se passarmos o início do filme achando que Almodóvar não nos levará a lugar algum.
No melhor estilo Almodóvar, ainda que esse filme não seja lá muito característico do diretor, os assuntos sérios e dramáticos são pontilhados de cenas construídas para serem comicamente sérias ou seriamente engraçadas, dependendo de como você encarar as coisas. Um exemplo disso é a longa cena envolvendo "El Tigre" (seria uma auto-referência?) pois o mero conceito do personagem e sua atuação nos arranca risos nervosos até que esses risos são soterrados pelos acontecimentos seguintes cujas consequências, na estrutura de A Pele que Habito, não ficam, naquele momento, completamente claras.
A Pele que Habito reúne elementos de filmes de horror, de comédia de humor negro e dramas macabros. Esqueçam os romances flamejantes e cores fortes que, de certa forma, tornaram-se marcas registradas do estilo Almodóvar de filmar. Imaginem, somente, uma espécie de pout pourri das cenas mais bizarras e doentias dos filmes anteriores do diretor costuradas em um filme que vai ganhando coerência bem aos poucos. Tenho certeza que alguns vão se incomodar com o tom "engraçado" que Almodóvar empresta a algumas cenas, especialmente quando a natureza do filme é revelada. Mas, nesse aspecto, o diretor manteve-se fiel ao que sempre fez e parte para realmente nos deixar inquietos com a maneira aparentemente (é só aparência mesmo) que trata determinados assuntos.
Mas A Pele que Habito é, obviamente, mais do que a soma de suas partes e acaba se revelando, talvez, como a melhor obra de Pedro Almodóvar, certamente um dos grandes filmes de 2011.
Nota: 9,5 de 10
Amigo, parabéns pela crítica também! Foi muito bom ler e constatar que pensamos de maneira muito parecida em relação a esse filme.
ResponderExcluirUm abraço!
SÓ TENHO A DIZER, Q DE 3 CRITICAS SUAS Q LIA agora, foi exatamente o q achei, e bem dito! Acompanharei todos seus posts a partir de hoje, parabens!
ResponderExcluirGuto, obrigado por ler meu blog. Se por acaso discordar de algo que escrevi, mande seus comentários também. É sempre bom discutir opiniões cinematográficas!
ResponderExcluirAbraço.
Só acho o seguinte, tentar impingir que fazer ioga e operação plastica realmente muda o sexo de uma pessoa, é sonhar muito alto Almodóvar. Guta.
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