sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crítica de filme: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres - 2009 (Män som hatar kvinnor - 2009)

O mais fascinante - e triste - fato sobre a trilogia Millenium é que seu autor, o jornalista sueco Stieg Larsson, faleceu aos 50 anos, em 2004, de ataque cardíaco, deixando seus três livros inéditos. Ele nunca viu ou usufruiu de seu sucesso editorial e cinematográfico, com direito a três bem-sucedidos filmes suecos lançados no mesmo ano (2009) e uma versão americana, lançada mês passado nos Estados Unidos e hoje, no Brasil.


Acontece que o filme sueco é tão fraco quanto o livro, mas por razões bem distintas.

Mikael Blomqvist (o sempre ótimo Michael Niqvist), um famoso jornalista sueco, perde uma briga judicial contra Hans-Erik Wennerström (Stefan Sauk) por conta de um artigo que escreveu acusando o milionário dos mais variados crimes. Blomqvist sabe que merece a condenação pois não fez o dever de casa corretamente e saiu escrevendo sobre fatos não verificados. No entanto, por outro lado, Blomqvist sabe que Wennerström é sujo. Condenado a pagar uma indenização que acabará com todo seu colchão financeiro, além de 3 meses de prisão, o jornalista teme pelo futuro de sua publicação, Millenium, que certamente terá sua reputação abalada pela besteira que fez. Entra, então, Henrik Vanger (Sven-Bertil Taube), um ex-industrial que contrata Blomqvist para investigar a morte de sua sobrinha Harriet (Ewa Fröling) há 36 anos por alguém da família, como ele desconfia. Para convencer Blomqvist, Vanger diz que tem provas contra Wennerström e as entregará ao final da investigação.

De forma a permitir que Blomqvist entreviste os demais membros da família Vanger, quase todos vivendo em região isolada da Suécia, Vanger diz que Blomqvist está escrevendo sua biografia. Mais para frente, Blomqvist recebe a ajuda de uma super-hacker de aparência muito estranha e cheia de tatuagens e piercings chamada Lisbeth Salander (Noomi Rapace).

Assim como no livro, a estória é interessante mas o ponto mais bem trabalhado do livro, a questão moral que Blomqvist enfrenta por ter escrito o que escreveu é quase inexistente no filme. Niels Arden Opley, o diretor, edita o filme de maneira que ele seja puramente um thriller investigativo, esquecendo-se de construir apropriadamente a persona de Blomqvist. Com isso, as motivações do personagem principal ficam um tanto quanto enevoadas e sem direção e todo o destaque vai para Lisbeth Salander , com todas as suas esquisitices e passado tenebroso. É um desperdício do talento de Niqvist.

No entanto, mesmo no caso de Salander, o que vemos nas telas é um personagem ainda menos interessante do que vemos no livro. Sim, ela se tornou famosa e todos só falam dela quando lembram do livro mas creio que seja difícil escapar à conclusão de que ela é um personagem-muleta criado por Stieg Larsson para dar aos leitores alguém diferente e descolado, de maneira que os leitores de hoje em dia, bem menos exigentes, possam identificar-se e achar que gostar de Salander é gostar do "diferente". Opley entendeu isso e usa o personagem no filme com bem mais destaque do que Larsson deu no livro. O filme é basicamente de Salander e Noomi Rapace até faz seu personagem de maneira eficiente mas, no filme, ele é raso, claramente só presente pelo fator cool.

Por outro lado, Opley soube manobrar bem a estória da investigação da morte de Harriet e conseguiu evitar que o clímax chegasse cedo demais, como acontece no livro. Também foi possível tornar Salander mais relevante à trama, justificando um pouco sua existência. Teria sido melhor, porém, se os roteiristas tivessem feito alterações mais radicais na adaptação, de forma a evitar os outros dois finais que acabam retirando ritmo do filme e apresentando um final "surpresa" que é telegrafado desde o começo e, pior, a volta insatisfatória à estória envolvendo Wennerström. Mas, claro, os fãs do livro, que nunca entendem que um filme é um filme e o livro em que foi baseado é apenas o livro em que foi baseado, iriam jurar os roteiristas de morte, queimar cinemas e por aí vai.

Assim, ao longo de seus gigantescos 152 minutos (e olha que há versões maiores por aí) o filme se arrasta sem nunca verdadeiramente empolgar e acaba por oferecer uma experiência frustrante. Agora é ver se David Fincher, um grande diretor, conseguiu consertar os problemas do livro com a nova adaptação.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 5 de 10

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